La melancolia como deporte praticable.

Gran Vía, 40

martes, 7 de junio de 2011

perto dos 30

voltamos, como num conto cíclico, à velha história (por vezes esquecida) das possibilidades. de quando em quando dá-me isto. suponho que me bate mais forte quando emerge a possibilidade de uma relação perfeita. não estou em contra do que tenho neste momento. mto pelo contrário, reconheço e dou-lhe todo o seu valor. mas, de tempos a tempos, a realidade presenteia-me a possibilidade de outro alguém. e então tudo se desmorona. o coração volta a bater forte, a pressão sobe e desce, revelam-se todas e mais alguma doenças, qual fragilizada donzela romântica.
oh querida Lilith. é nestes momentos que sinto que se me escapa um pouco a vida. que a realidade que sou já implica demasiado para por a perder. entendes-me? é como se quisesse voltar atrás no tempo mas sendo o eu de agora, com tudo o que já sei no limiar da minha década dos 20. não sei o que quero e não tenho a menor ideia de para onde vou. se te pareço seguro em outras conversas, fica sabendo que minto. ou pelo menos vivo numa espécie de quarto escuro como todos os demais. depois de dois parágrafos, tenho a sensação de que não me explico. que falta me fazes aos olhos e aos silêncios de uma conversa, onde tenho a certeza que já tinhas decifrado o meu dilema...!
sinto às vezes que alcanço aquela tua sempre-ideia da memória como base de todas as coisas. e ao mesmo tempo não sei sequer se me acerco a ela. simplificando: nestes momentos de angústia (sim, é angústia o que sinto!), creio que estou a perder parte de tudo. estou preso numa existência quotidiana e nem sei como cá vim parar. quero voltar a apaixonar-me e a deixar que me destrocem o coração. quero embriagar-me de sentimentos fortes de uma noite e sentir a ressaca emocional que tanto dói. e isto não se aplica só ao campo emocional. quero poder estar relaxado num trabalho sabendo que posso mandar tudo à merda quando me apeteça. e também sofrer com isso. quero sobretudo isso, saber que posso. que posso. que posso.
faltam 10 dias para o meu 30º aniversário e custa-me muito pensar que, a tão tenra idade, a tal manhã na casa da praia da "Clarissa Streep" já passou. e eu que achava que ainda só estava a ponto de deitar-me na noite anterior.
é a segunda vez que isto me passa nos últimos 3 anos. há exactamente 2 anos tive o mesmo problema. depois tudo se resolveu e os olhos voltaram a fechar-se. sei que tudo vai ficar bem. que isto interessa muito pouco. mas é só que neste preciso momento, hoje, a esta hora, tudo me dói.
imagino-te que me dizes que aproveite o melhor dos dois mundos. que me contradiga o quotidiano e que me apaixone por outrem até a paixão terminar. e que depois volte ao ninho que construí para dormir descansado. espero que mo digas assim e eu me serene um pouco.

miércoles, 27 de abril de 2011

"...,pá!"

uma vez mais a propósito do Saramago, regresso às subtilezas da Língua Portuguesa, amiúde esquecida por estas minhas terras. Ontem, quando depois da conferência passaram o documental "José y Pilar", ouvi o Saramago falar com aquele tom cansado e meio pesado da idade avançada e senti que a minha atracção auditiva seguia quase sempre as pequenas muletas da nossa Língua oral (tão, tão simples, mas ao mesmo tempo tão cheias de força pragmática linguística!). Veio-me à cabeça o tom de voz do meu avô e de todos os tons pesados, melancólicos e fatigados dos anos.
o tal "pá", no final de cada frase. O tal "pá" repetido até à exaustão, sem se dar conta. O "pá" que também veio à baila há relativamente pouco tempo e que tão bem descreve o Mário de Carvalho nos coronéis e uma piscina. deixa la ver se encontro isso...
cá está, página 215:
"-Pá! - suspendeu-se o coronel Bernardes que, nos degraus da escada de mão, varria as vistas a bom varrer, de binóculo a jeito. Muito curiosa, esta partícula "pá!", que não querendo dizer nada, quer dizer tudo e exprime as mais ínfimas variações de alma. O professor Óscar Lopes já nos deu um magnifico estudo sobre o "assim". Este "pá", ao que sei, aguarda ainda o exame ilustrado e frio duma grande cabeça. Lá chegaremos, acho. Admiremos para já, de ouvido, a beleza e a simplicidade daquela vogal aberta que parece estalar com a oclusiva "p", como uma sonora bolota a saltar no lume. Quanto à semântica, o que me entristece é virem-me dizer que a Língua Portuguesa é desmunida de capacidade de síntese. Neste simples "pá" do coronel Bernardes há uma mistura de gáudio, de reconhecimento, de descrição, de desconfiança, de alarme, que não se encontra nos falantes dos demais idiomas, com excepção das crianças de peito."

martes, 26 de abril de 2011

é tarde,,,

é tarde. ultimamente é tarde para quase tudo...
mas nao ha-de ser esse o entrave a este ímpeto de te escrever (e assim reiniciar, de alguma maneira, a nossa ponte de comunicação "parada ao tráfego").
sinto vontade, ao regressar a este espaço, de me explicar, de pedir desculpa aos meus diários perdidos por este tempo de ausencia. mas nada disso te interessa. estou de volta para ti. neste numero 40 dessa grande avenida por onde passo diariamente. achei que seria a morada perfeita para te deixar a minha correspondencia. pode ser (assim o espero, pelo menos!), que ao passar em frente desta porta todos os dias depois do trabalho, quando o dia teima em findar mas eu mal acordei, eu ganhe a força e a vontade de te contar uma que outra "quotinieidade".

é tarde. e começamos mal a primeira carta de um dia que se me apresentou ainda pior. em linhas breves: broncas no trabalho. reivindicações (talvez infantis) levaram a que uma vez mais fosse chamado à atenção pelo meu "novo" chefe. discutiram-se coisas inúteis e, la pelo meio, entre pseudo ameaças, disseram-se coisas que eu poderia ter evitado (dizer e ouvir). Enfim, mas isso nao interessa muito, ate porque nao creio que tenha servido de muito mais que criar uma outra pequena barreira laborar. coisas do dia a dia dos mortais. um dia falar-te-ei, uma vez mais, da ideia do mestre Ferreira sobre o "trabalho" e argumentarei com mais calma o quao injusto me parece que a maior parte da nossa vida tenha que estar dedicada ao trabalho e tao tao pouca parte ao estudo e à aprendizagem.
sai do trabalho a correr porque começavam hoje as jornadas "saramaguianas" (espanholismo suponho) aqui em Granada. A Pilar del Rio vinha dar uma conferencia mesmo aqui ao lado de minha casa. Cheguei tarde (por causa da bronca do trabalho). (nao te disse que ultimamente é sempre tarde??), mas mesmo assim deu para a ouvir. Falou dele, num discurso que toda a sala pedia desesperadamente com o olhar que fosse de pena e lamento. mas felizmente a senhora nao caiu em lamechices. la no meio de varias historietas, leu-se um excerto de uma entrevista. mais ou menos desta forma, perguntava a entrevistadora: "vou-lhe dar duas palavras. terá que eleger uma ou outra. ou nenhuma. em qq caso terá que dar-me uma razão da sua escolha. as palavras sao: sim e não". e o Saramago respondeu que escolheria sempre o não, obviamente. que o não teria sempre que estar presente. que a Humanidade estava predisposta ao sim automaticamente. que ao longo da História se contavam pelos dedos os "nãos" em detrimento dos incessantes "sims". não ao conformismo. não ao voto. não ao baixar a cabeça.
e obrigatoriamente dei por mim a pensar nos acontecimentos do meu dia e no bem que se adaptavam as palavras do Saramago ao que sentia. Cheguei a casa convicto de que, aos 30 anos, ja aceitei demasiados sims e que só tinha feito bem em dizer não ao meu chefe. liguei à minha mae e ela falou-me de um "nim". e voltei a cair no poço da depressão...

sábado, 2 de febrero de 2008

Ensayo de un crimen

Ojalá pudiera yo orientar mis sueños según mis deseos. Entonces... no me despertaría nunca.

L. Buñuel

viernes, 25 de enero de 2008

y un día, bajando la calle, después de una mala cita con la existencia de si mismo, me dijo el Mestre, sin pausas:

El gran escándalo de la Vida es que la vida soy yo...
Me arranco a mí mismo en el acto de saberme, pero ese extraordinario milagro es el milagro del mundo, y jamás podré entenderlo. De la piedra a la reflexión hay un salto y una continuidad.
se hacía escuchar de esta forma:

Ahora la mujer del pañuelo me resulta imprescindible. Tal vez toda esa higiene de no esperar sea un poco ridícula. No esperar de la vida, para no arriesgarla; darse por muerto, para no morir. De pronto esto me ha parecido un letargo espantoso, inquietísimo; quiero que se acabe. Después de la fuga, después de haber vivido no atendiendo a un cansancio que me destruía, logré la calma; mis decisiones tal vez me devuelvan a ese pasado o a los jueces; los prefiero a este largo purgatorio.

jueves, 24 de enero de 2008

En el sueño todas las posibilidades. En ese mundo pararlelo, el más completo dicionário de signos simbolizantes.