La melancolia como deporte praticable.

martes, 26 de abril de 2011

é tarde,,,

é tarde. ultimamente é tarde para quase tudo...
mas nao ha-de ser esse o entrave a este ímpeto de te escrever (e assim reiniciar, de alguma maneira, a nossa ponte de comunicação "parada ao tráfego").
sinto vontade, ao regressar a este espaço, de me explicar, de pedir desculpa aos meus diários perdidos por este tempo de ausencia. mas nada disso te interessa. estou de volta para ti. neste numero 40 dessa grande avenida por onde passo diariamente. achei que seria a morada perfeita para te deixar a minha correspondencia. pode ser (assim o espero, pelo menos!), que ao passar em frente desta porta todos os dias depois do trabalho, quando o dia teima em findar mas eu mal acordei, eu ganhe a força e a vontade de te contar uma que outra "quotinieidade".

é tarde. e começamos mal a primeira carta de um dia que se me apresentou ainda pior. em linhas breves: broncas no trabalho. reivindicações (talvez infantis) levaram a que uma vez mais fosse chamado à atenção pelo meu "novo" chefe. discutiram-se coisas inúteis e, la pelo meio, entre pseudo ameaças, disseram-se coisas que eu poderia ter evitado (dizer e ouvir). Enfim, mas isso nao interessa muito, ate porque nao creio que tenha servido de muito mais que criar uma outra pequena barreira laborar. coisas do dia a dia dos mortais. um dia falar-te-ei, uma vez mais, da ideia do mestre Ferreira sobre o "trabalho" e argumentarei com mais calma o quao injusto me parece que a maior parte da nossa vida tenha que estar dedicada ao trabalho e tao tao pouca parte ao estudo e à aprendizagem.
sai do trabalho a correr porque começavam hoje as jornadas "saramaguianas" (espanholismo suponho) aqui em Granada. A Pilar del Rio vinha dar uma conferencia mesmo aqui ao lado de minha casa. Cheguei tarde (por causa da bronca do trabalho). (nao te disse que ultimamente é sempre tarde??), mas mesmo assim deu para a ouvir. Falou dele, num discurso que toda a sala pedia desesperadamente com o olhar que fosse de pena e lamento. mas felizmente a senhora nao caiu em lamechices. la no meio de varias historietas, leu-se um excerto de uma entrevista. mais ou menos desta forma, perguntava a entrevistadora: "vou-lhe dar duas palavras. terá que eleger uma ou outra. ou nenhuma. em qq caso terá que dar-me uma razão da sua escolha. as palavras sao: sim e não". e o Saramago respondeu que escolheria sempre o não, obviamente. que o não teria sempre que estar presente. que a Humanidade estava predisposta ao sim automaticamente. que ao longo da História se contavam pelos dedos os "nãos" em detrimento dos incessantes "sims". não ao conformismo. não ao voto. não ao baixar a cabeça.
e obrigatoriamente dei por mim a pensar nos acontecimentos do meu dia e no bem que se adaptavam as palavras do Saramago ao que sentia. Cheguei a casa convicto de que, aos 30 anos, ja aceitei demasiados sims e que só tinha feito bem em dizer não ao meu chefe. liguei à minha mae e ela falou-me de um "nim". e voltei a cair no poço da depressão...